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A Tradição da Cabalá

Introdução

 

No momento em que o povo de Israel estava aos pés do Monte Sinai, os céus se abriram e o espírito de D’us desceu das alturas em meio a trovões e relâmpagos de fogo. Ao revelar a Si próprio a toda comunidade de Israel, D’us, em essência,desvendou o núcleo oculto da verdade cabalística, a qual,até aquele ponto, era privilégio de alguns poucos.

 

De acordo com a tradição da Cabalá, o objetivo da Criação foi o de prover D’us com um “local de moradia nos reinos inferiores”, um objetivo que se completa através do direcionamento da luz Divina para “veículos” progressivamente mais densos do pensamento, sentimento e ação humanos e, dali, para o resto do mundo material.

 

A tentativa da Cabalá de trazer os mistérios da Criação mais próximos da própria experiência humana se expressou talvez mais radicalmente através do pensamento e da tradição chassídicos.

 

A Chassidut avançou o foco da tradição mística para além dos limites dos olamot (“mundos”, a realidade de espaço e tempo) até o mundo mais sublime das neshamot  (“almas”).

 

Daí que, enquanto a Cabalá é referida no Zohar como “a alma da Torah”, a Chassidut tem sido descrita como a “alma da alma da Torah”.

 

As Raízes da Tradição da Cabalá

 

As raízes da tradição cabalística podem ser traçadas até a antiga experiência profética de nossos patriarcas – Avraham, Yitschak e Yaacov. A sabedoria e a visão originadas de sua intimidade com o Divino formaram a base do legado espiritual passado adiante aos seus filhos, as doze tribos de Israel. A verificação final deste legado veio no momento em que Israel estava aos pés do Monte Sinai, os céus de abriram e o espírito de D’us desceu em meio a trovões e relâmpagos de fogo. Ao revelar a Si próprio a toda a comunidade de Israel, D’us, na verdade, expôs a essência oculta da verdade da Cabalá, a qual, até aquele momento, era privilégio de alguns poucos. Naquele exato momento, como o versículo nos diz, Moshe subiu a montanha e penetrou em uma densa escuridão onde D’us, de forma particular, revelou a ele o complexo de sabedoria e leis Divinas que deveria preencher o vácuo que restou após Seu recuo para a esfera celestial.

 

A sabedoria que Moshe recebeu no Sinai e passou adiante, mais tarde, para seu povo, era composta de elementos esotéricos e exotéricos. A tradição exotérica – ou niglah (aquilo que é “revelado”) – se tornou o foco identificado da vida Judaica, tanto no estudo quanto na prática, ao longo das gerações. É esta tradição com a qual somos familiarizados através dos trabalhos clássicos da erudição e das leis Judaicas – o principal sendo o Talmud. Por outro lado, a tradição esotérica -- conhecida como nistar (aquilo que é “oculto”) -- foi transmitida a uns poucos de cada geração, adequados para iniciação em suas profundezas misteriosas.

 

Esta tradição, que é a base da Cabalá, fez seu caminho como um fio oculto ao longo do curso da história Judaica. Em momentos fortuitos ao longo daquela história, este fio iria periodicamente aparecer para embelezar a consciência espiritual em evolução de nosso povo. Interpretada por homens de visão e inteligência incomuns, esta tradição lentamente encontrou seu caminho para a forma escrita em trabalhos que expuseram seus aspectos teóricos
e práticos.

 

A terminologia tradicional empregada na referência a estes dois aspectos distintos do questionamento cabalístico é o mesmo da Cabalá iyunit (“Cabalá contemplativa”) e Cabalá ma’asit (“Cabalá prática”). Apesar de que veremos que esta distinção pode ser, freqüentemente, bem arbitrária, ela nos ajudará a isolar várias tendências dentro do desenvolvimento da tradição cabalística.

 

A Tradição “Contemplativa”

 

 

Cabalá yunit, a categoria à qual pertence a maioria dos textos cabalísticos atualmente em circulação, explica o processo onde o mundo criado evoluiu a uma existência “autônoma” restrita através da vontade de um Criador infinito, elaborando também sobre a natureza do “diálogo” entre Criação, à medida que ela procede para o cumprimento de seu destino, e a fonte Divina da qual ela emerge. Em um nível ainda mais profundo, a Cabalá iyunit explora a natureza complexa da própria realidade Divina – em particular, o paradoxo do D’us imutável e, mesmo assim, ativo e reativo em Sua relação com a Criação.

 

Um aspecto adicional desta tradição contemplativa, muitas vezes erroneamente identificado como “Cabalá prática”, é a elaboração de várias técnicas meditativas usadas para ponderar o subtexto Divino da realidade. Estas incluem a contemplação de Nomes Divinos, das permutações das letras hebraicas e das formas nas quais as sefirot (forças Divinas sobrenaturais) se harmonizam e interagem. Algumas formas antigas de meditação cabalística realmente produzem uma experiência visionária das “câmaras” celestiais onde a Glória D’us reside.

 

Mesmo se procuradas em consideração ao tikkun hanefesh (“melhoria espiritual”) apenas, estas técnicas meditativas, sem a reflexão teosófica apropriada, podem ainda ser consideradas legitimamente “contemplativas” pela virtude de sua influência refinadora sobre a consciência.

 

A Tradição “Prática”

 

A verdadeira “prática” da Cabalá envolve técnicas direcionadas especificamente para a alteração de estados ou eventos naturais – técnicas como a recitação ritual dos Nomes Divinos ou a inscrição de tais nomes (ou aqueles dos anjos) sobre amuletos especialmente preparados. Apesar de comumente denominada uma tradição “oculta”, a Cabalá ma’asit se destina a ser utilizada somente pelos mais puros e responsáveis indivíduos e para nenhum outro objetivo que não o benefício do homem e da Criação.

 

Desde os antigos tempos do sagrado Ari (meados do século 16), existem indicações destas técnicas sendo mal usadas por pessoas inadequadas. O sagrado Ari, ele próprio exortava seus discípulos a evitarem as artes práticas da Cabalá, pois julgava que esta prática não era autorizada, uma vez que o estado de pureza espiritual necessário para o trabalho no Templo Sagrado continua inatingível. A exortação do Ari, em efeito, adiava a prática dos rituais de Cabalá até o dia em que o Templo for reconstruído e a pureza necessária para tais serviços for restaurada.

 

O serviço no Templo realmente provia a estrutura primária na qual o aspecto prático da Cabalá se desenvolveu. O rito principal da tradição prática – a enunciação do Nome essencial de D’us – era uma peça central dos ritos do Templo conduzidos pelo Sumo Sacerdote no Yom Kipur. Como outros aspectos da tradição prática, a fórmula exata da pronúncia do Nome de quatro letras foi passado adiante, em segredo, de geração a geração do Sumo Sacerdote. A um certo momento, foi determinado que esta fórmula não deveria ser mais transmitida, pois os indivíduos designados para o Sumo Sacerdócio se mostraram cada vez mais corruptos e inadequados para a execução desta sensível e espiritualmente exigente prática. Pela suspensão do pronunciamento cerimonial do Nome de D’us no Templo, os Rabbis criaram um precedente para aqueles -- como o Ari  -- que, em gerações posteriores, argumentaram contra a prática da Cabalá ritual.

 

Realmente, o temor de Ari provou estar bem fundamentado já que, nos séculos seguintes, pudemos testemunhar a emergência de movimentos pseudocabalísticos, motivados pelo oportunismo ou pela espiritualidade mal orientada, que comprometeram a fé de Israel assim como a reputação dos objetivos legítimos da Cabalá. O estudo dos fundamentos conceituais da Cabalá dentro do contexto de um compromisso inabalável às leis normativas da Torah forneceu a melhor proteção contra estas formas corruptas de prática cabalística.

 

Como indicado acima, não existe uma demarcação clara separando os elementos contemplativos da Cabalá daqueles com objetivos de influenciar e alterar a realidade. Assim como a Cabalá iyunit pode influenciar, através de seu sistema de kavanot (meditações guiadas) -- a configuração das forças Divinas que impingem sobre nossa realidade -- assim também é a eficácia de “Cabalá prática” baseada no conhecimento da teoria e doutrina cabalísticas. Talvez o mais famoso caso de prática cabalística – a confecção de um golem (humanóide) em Praga no século 16 – envolveu ninguém além do grande e santo estudioso Rabbi Judah Loew, um proeminente interpretador da tradição contemplativa.

 

A Vantagem da Sabedoria Sobre A Profecia

 

A tradição contemplativa, enquanto opera no âmbito do intelecto rotineiro, provê o meio ideal de se obter o esclarecimento Divino. É explicado na Cabalá que a capacidade de reflexão interna deriva de um mundo celestial (o das “almas”) hierarquicamente superior àquele do qual derivam as forças exóticas elicitadas pela prática da Cabalá (o dos “anjos”). A elevação do pensamento ao ponto onde ele convida a sabedoria e entendimento Divinos constitui o auge da realização espiritual.

 

De acordo com a tradição cabalística, o objetivo da Criação é prover D’us com um “local de moradia nos mundos inferiores”, um objetivo que atinge sua realização pelo direcionamento da luz Divina aos “veículos” progressivamente mais densos do pensamento, sentimento e ação humanos, e, daí, para o resto do mundo material. Trabalhando-se no âmbito da consciência mundana, a tradição contemplativa nos torna sensíveis às infinitas nuances Divinas dentro da Criação. Por esta razão, a profecia, que transcende a experiência mundana, não é capaz de prover o verdadeiro esclarecimento.

 

A vantagem da chochmah (“sabedoria”) sobre a nevuah (“profecia”) como um caminho para o esclarecimento é evidente nos ensinamentos de nossos Sábios de que “o homem sábio é maior que o profeta”. Através da profecia, pode-se chegar à aproximação final com o pensamento Divino, mas sem necessariamente impactar o eu ou a Criação como um todo. É o padrão mais alto de caráter e inteligência o qual é dito preponderar sobre a profecia, e não ao contrário.

 

Sabedoria, pela virtude de sua conceitualização e abstração, serve para generalizar a experiência do mundo na terminologia da consciência ordinária, assim fazendo-o comunicável aos outros. A experiência profética, apesar de extraordinariamente vívida em suas imagens, está divorciada da realidade “aqui-e-agora” e, assim, permanece essencialmente impenetrável pelos outros. O único indivíduo para quem sabedoria e profecia se mesclaram em um único canal de entendimento foi Moshe, que foi capaz de receber profecias enquanto ainda retinha suas faculdades rotineiras, portanto provendo o modelo mais representativo de da’at (“conhecimento”) purificado. Ele era não só o mais sábio dos homens como também o mais adaptado às coisas Divinas; o único humano que podia, como o fez, encontrar D’us “na metade do caminho subindo a montanha”.

 

A tradição cabalística, apesar de baseada na experiência profética de nossos antepassados e sábios, veio mudando constantemente ao longo do tempo na direção de uma maior e mais sutil articulação conceitual. Isto é mais do que apenas uma conseqüência do fato do homem ter se distanciado mais e mais da experiência direta do Divino; é uma parte do plano fortuito que vê o grande benefício para
D’us e a Criação na cultivação de uma consciência espiritual firmemente baseada na realidade mundana. Este plano é evidente em inúmeros versículos na Torah, tais como esses no livro de Yeshayahu (Isaías 11:9 e 52:8):

 

“a terra estará cheia de conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar... olho no olho, eles verão o retorno do Senhor a Tzión...”

 

A Cabalá, como uma estrutura dentro da qual Judeus historicamente desenvolveram seu entendimento original da realidade, representa um legado tanto de profecia quanto de sabedoria. Isto é vividamente retratado pela gematria (“numerologia Judaica”) da própria palavra Cabalá (= 137), que é igual ao valor combinado das palavras chochmah (“sabedoria” = 73) e nevuah (“profecia” = 64). Através da sabedoria da Cabalá aprendemos a “ouvir” o que nossos ancestrais “visualizaram” no Sinai. Uma vez que plenamente compreendamos o significado conceitual daquela visão, começaremos, novamente, a “ver” D’us, porém com nossos sentidos comuns intactos e não somente por um momento, mas por todo o tempo depois disso.

 

Chassidut: A Fronteira Final da Cabalá

 

A tentativa da Cabalá de trazer os mistérios da Criação mais próximos à própria experiência humana se expressou, talvez de forma mais radical, através do pensamente da tradição chassídicos. Esta abordagem revolucionária à espiritualidade Judaica foi revelada através do grande sábio do século 18, Rabbi Israel Ba’al Shem Tov. Inicialmente praticando maravilhas, curando as doenças humanas através de poderes tanto naturais quanto sobrenaturais, o Ba’al Shem Tov lentamente evoluiu à condição de facilitador e professor que teve sucesso em revelar a capacidade única dentro de todo ser humano de diretamente provocar a graça e benção Divinas.

 

Seus ensinamentos enfatizam aqueles componentes da experiência interna humana que se correlacionam com as forças sobrenaturais discutidas na Cabalá clássica. Daí, ele avançou a contemplação cabalística para além dos limites da abstração filosófica e para dentro da esfera da dedução psicológica imediata. Foi pela delineação da interface entre as sefirot e a psique humana que a Chassidut desejou trazer o pensamento e a prática cabalísticos à sua fronteira final.

 

O desejo do Ba’al Shem Tov de prosseguir para além da convenção cabalística e forjar um novo caminho para o serviço encontra expressão na seguinte história: diz-se que o Ba’al Shem Tov, uma vez, lançou mão do uso de um Nome Divino para conseguir atravessar um rio intransponível, somente para depois se lamentar do que ele considerou o uso desnecessário de um poder Divino sobrenatural. Depois de passar vários anos expiando por aquele único ato, ele, novamente, se encontrou na borda de um violento córrego, mas o cruzou usando nada mais que a simples fé.

 

Foi este recurso da fé, acessível a todo Judeu, e não os poderes de difícil compreensão da Cabalá prática, que o Ba’al Shem Tov procurou usar na vida diária. Neste processo, ele destilou o espírito essencial da Cabalá, realçando tanto sua relevância quanto impacto. Daí que, enquanto a Cabalá é referida no Zohar como a “alma da Torah”, a Chassidut foi cunhada como sendo a “alma da alma da Torah”.

 

Realmente, a tradição clássica da Cabalá pode ser considerada chitzoni (“superficial”) em relação àquela da Chassidut, a qual, ao focar na experiência imediata, identifica aspectos da Divindade que o sistema altamente formal e abstrato da indução cabalística deixa inexplorado.

 

O determinante de quão profundo uma determinada tradição penetra os mistérios do ser Divino é o grau de bitul, ou “auto-anulação”, implícita na abordagem daquela tradição. A Chassidut, ao enfatizar a Divindade inata da alma Judaica, inspira um maior grau de bitul que a Cabalá clássica com seu foco sobre a “evolução” do ser criado. Outra forma de dizer isto, consoante com a própria terminologia do Ba’al Shem Tov, é que Chassidut avança o foco da tradição mística para além dos limites dos olamot (“mundos”, a realidade de espaço e tempo) até o mundo mais sublime das neshamot (“almas”).

 

 

Conceitos Básicos na Cabalá e Chassidut:
Perguntas e Respostas Para Iniciantes

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Quais Devem Ser Meus Objetivos?

O Ba’al Shem Tov entendeu que todas as almas intuíram a existência de uma realidade mais profunda do que pode ser percebido pelo cinco sentidos. A alma Judia, em especial, está imbuída do desejo e da necessidade de estar em contato com a dimensão invisível e oculta da realidade.

Com freqüência, o mundo material e a impressão inicial de que Judeus, às vezes, recebem de acordo com sua religião, carregam a idéia errônea de que é impossível atingir e se relacionar com a dimensão oculta da realidade. E, como resultado, algumas pessoas apenas desistem, entorpecidas pela banalidade da existência física.

Entretanto, nossa era é testemunha para vários pesquisadores que não são tão facilmente desviados desta fundamental necessidade da alma – procurar o significado oculto da vida e da realidade, procurar o próprio D'us.

O aprendizado verdadeiro e sincero da Cabalá e da Chassidut autênticas leva a pessoa a dois simples objetivos:

Primeiro, entender que D'us é tudo e tudo é D'us. Ele está em todo lugar – em cada aspecto de nossas vidas. Nosso objetivo é descobrir D us e nos conectarmos com ele em tudo o que fazemos.

O segundo objetivo é, com o que aprendemos, difundir, ensinar e despertar outros. Cada um de nós tem uma missão Divina – espalhar a boa luz de D'us para os cantos mais escuros do mundo. Não importando a idade, sexo ou formação, cada pessoa foi trazida a este mundo para que ela, de sua própria maneira, transforme o mundo para melhor. Todo o objetivo do indivíduo deve ser o de fazer sua parte para transformar este mundo em um lugar de moradia para D us – um mundo cheio de amor, bondade, saúde, alegria e paz verdadeira.


Podem a Cabalá e a Chassidut Mudar Minha Vida?

A Cabalá é primeiro e, acima de tudo, o estudo do D us Criador. Quando, com toda a sinceridade do coração, nos aprofundamos nos mistérios e atributos Divinos, dia após dia, hora após hora, nada poderemos fazer a não ser refinar nossas personalidades durante este processo.

Este processo é cíclico – quanto mais estudamos a Cabalá com a intenção apropriada, melhor entendemos as manifestações de D us no mundo e procuramos emular Suas qualidades. Quanto mais refinamos nosso caráter na emulação de D us, mais próximos ficamos da Presença Divina na criação e somos mais capazes de entender a dimensão interior da realidade e experimentar D us na criação.

Quando nossa alma se funde com a sabedoria mística, todo nosso padrão de vida é transformado – da consciência de nossas almas, às emoções de nossos corações, a todo aspecto de nosso comportamento.

Mais importante, o estudo da Cabalá depende da devoção e desejo verdadeiro do coração do estudante. Isto é um pré-requisito – o verdadeiro desejo do coração deve ser o de chegar próximo a D'us. Além disso, depende da revelação de Cima. Ao longo das gerações, mais e mais tem sido revelado. A revelação final – que depende de quão verdadeiramente desejamos chegar próximo e nos unirmos a D us – é a revelação profetizada para os Dias do Mashiach, que acreditamos serem iminentes.


Como Faço a Cabalá e a Chassidut Se Tornarem Parte da Minha Vida Diária?

A dimensão oculta da Torah é uma parte integral da Torah e seus mandamentos. De fato, é um aspecto da Torah: o corpo da Torah sendo a lei e a alma da Torah sendo a Cabalá. Portanto, idealmente, estudantes sérios estudam tanto a lei da Torah quanto a Cabalá simultaneamente.

Um corpo não pode viver sem uma alma. A alma é enviada de Cima para penetrar o corpo, para aderir, em união, ao corpo no mistério da vida. Na Cabalá, a união do corpo e da alma é chamada Ma'aseh Merkavah (“Os Trabalhos da Carruagem”), e é considerado o mistério mais profundo da Torah. Para que possamos ter acesso a este segredo mais secreto, deve-se estudar tanto o corpo quanto a alma da Torah.

Existem, claro, períodos da vida quando enfatizamos um mais do que outro. Estas são questões pessoais e particulares para a qual nenhuma regra deve ser delineada. Em geral, como para tudo, deve haver equilíbrio, ponderação e união. Devemos nos devotar ao estudo das leis da Torah e à sabedoria e raciocínio por trás destas leis. Simultaneamente, para que encontremos D'us, Aquele que faz as leis, devemos estudar a Cabalá.

Aprender Torah reestrutura nossos processos de pensamento de acordo com a lógica Divina inerente à Torah. Os padrões de pensamento e de referência inatos à Torah se tornam assimilados em nossos intelectos e refletidos em nossas vidas.

Em vez de se desenvolver de forma linear, como é comum na cultura ocidental, o estudo da Torah e da Cabalá avança de forma circular. Nós aprendemos e, então, revisamos de novo e de novo, cada vez adicionando uma nova e mais profunda camada de conhecimento.

Nesta maneira de estudo, a Torah Escrita, o Talmud, os códigos da Lei Judaica, e a Cabalá, são vistos como um todo abrangente e único. Nenhuma separação pode ser feita entre a dimensão legal do estudo e da prática da Torah – a Halachah (“O Caminho”) – e seu complemento místico e espiritual. Os textos da Lei Talmúdica estão unidos intrinsicamente com os ensinamentos místicos da Cabalá. Da mesma forma, a Cabalá não pode ser estudada sem a devoção ao Talmud e seus comentários e aos códigos legais.

Assim, o estudante das leis da Torah deverá perceber que uma dimensão oculta e mística existe mesmo nos aspectos mais diminutos da observância da Torah. Por outro lado, um estudante estimulado pelo poder dos ensinamentos místicos da Cabalá deve perceber que a expressão plena desses ensinamentos vem da observância diária das leis da Torah.


Como Posso Saber Se A Fonte De Cabalá Que Estou Estudando É Autêntica?

O verdadeiro estudo da Cabalá é o estudo de como ficar próximo a D us e emular Seus Divinos atributos. No estudo adequado da Cabalá e da Chassidut, deve-se tentar prezar e identificar com a auto-anulação na presença de D us. Se uma pessoa ou instituição que pretende ensinar Cabalá lhe diz que você tem poderes espirituais raros, ou promete a você tais poderes, este é o primeiro sinal de que esta fonte não fala de Cabalá autêntica.

O estudo da Cabalá a título de experiência é um assunto questionável. Deve-se avaliar honestamente se se está procurando D'us (a experiência da auto-anulação) ou se seu desejo por uma experiência se origina em seu ego. A diferenciação básica entre a Cabalá autêntica e não-autêntica é como ela é representada: como “coisas” ou como auto-anulação na presença de D'us.

D'us criou nosso mundo com amor. É Seu desejo que nos purifiquemos e retornemos a Ele com amor – sem julgamentos ásperos, D'us nos livre. Se uma pessoa ou instituição tenta manipular a você com ameaças de punição severa neste mundo ou no próximo, este é um outro indício de que esta fonte não é de Cabalá autêntica.

A mitzvah (“Mandamento”) da caridade é considerada uma mitzvah abrangente da Torah e é fundamental para o Judaísmo. Esta mitzvah inclui doar diretamente ao necessitado tanto quanto suportar organizações que suportem outros materialmente e espiritualmente. Fazer doações para uma causa como esta dá, ao doador, o mérito de participar em todas as boas ações e objetivos da organização. Em vários locais, também se costuma dar caridade quando se consulta um Tzadik. Um verdadeiro Tzadik ou uma autêntica organização não se relacionarão com uma pessoa de acordo com o volume de sua doação ou pela falta dela. Eles aceitarão cada pessoa com paciência e carinho, com um verdadeiro desejo de ajuda ao próximo.

A Cabalá autêntica em nossa geração necessariamente começa com os pensamentos e profundos insights da Chassidut. Através do estudo da Chassidut, o desejo inato da alma Judia de se tornar única e próxima a D'us é despertada e revelada. Todas as curas e bênçãos vêm exclusivamente disto e de nada mais.

 

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Qual é a Origem da Cabalá e da Chassidut?


Do momento de sua revelação no Monte Sinai, a dimensão oculta da Torah – Cabalá – era conhecida somente pelos sacerdotes e profetas. Entretanto, depois que o poder da profecia cessou e o Templo de Jerusalém foi destruído, uma nova era surgiu para a Cabalá. Por volta do ano 3860 da criação do mundo (ano 100 da Era Comum), ao Rabbi Shimon Bar Yochai – também conhecido pelo acrônimo de seu nome como Rashbi – foram dados o poder e permissão Celestiais para revelar aos seus discípulos a sabedoria oculta da Cabalá.

Ele explicou as funções individuais das emanações da luz Divina – as dez sefirot – e como as sefirot se manifestam em cada versículo da Torah e em cada fenômeno da natureza. Seus ensinamentos estão contidos no grande texto clássico da Cabalá, o Sefer HaZohar, o “Livro da Luminosidade”, mais comumente conhecido como Zohar.

Durante cerca de mil anos após o falecimento do Rabbi Shimon Bar Yochai, os ensinamentos do Zohar eram passados adiante de um cabalista a outro, compartilhado em cada geração por poucos seletos estudantes considerados dignos de preservarem sua transmissão.

Não foi senão a partir do ano 5000 da criação do mundo (13º século EC) que o Zohar foi disseminado para um grupo maior. Naquela época, na Espanha, o Rabbi Moses de Leon começou a tornar público o texto do Zohar. Entretanto, mesmo então, poucos podiam compreender seus ensinamentos. Pelos próximos 250 anos, muitos cabalistas tentaram prover uma estrutura conceitual na qual pudessem incluir as lições com associações livres e altamente simbólicas do Zohar.

Ninguém teve tanto sucesso como o grande estudioso talmúdico e cabalista, Rabbi Moshe Cordovero de Safed, que nasceu no ano de 5285 da criação do mundo (1522 EC), mais conhecido como Ramak. O objetivo de Ramak era o de sistematizar de forma racional todo o pensamento cabalista até o seu tempo, em particular os ensinamentos do Zohar.

Em sua obra magna, o Pardes Rimomim (“O Pomar das Romãs”), o Ramak demonstrou a unidade subjacente da tradição cabalística ao organizar os vários – por vezes, aparentemente contraditórios – ensinamentos da sabedoria oculta em um sistema coerente.

O núcleo do sistema de Ramak consiste de uma detalhada descrição de como D'us, o Criador, por meio das dez sefirot, desenvolveu a realidade finita a partir da extensão exclusiva da Luz Divina infinita referida como Or Ein Sof (“Luz Infinita”).

Quase imediatamente após a morte de Ramak, Rabbi Isaac Luria, nascido no ano 5294 da criação do mundo (1534 EC), popularmente conhecido como o Arizal ou Ari, começou o próximo estágio na revelação da Cabalá. O Ari nasceu em Jerusalém, porém, ainda jovem, mudou-se para o Egito onde rapidamente se estabeleceu como um prodígio no Talmud. Introduzido nos segredos da Cabalá por um de seus mentores, ele freqüentemente passava extensos períodos de tempo meditando sozinho. Durante uma de suas experiências visionárias, o Ari foi instruído pelo Profeta Elias para retornar à Terra de Israel, onde, na cidade de Safed, encontraria aquele destinado a se tornar seu principal discípulo e expoente.

De acordo com a tradição, o Ari chegou a Safed no mesmo dia do funeral de Ramak. Juntando-se ao cortejo, ele visualizou uma coluna de fogo sobre o caixão – um sinal, de acordo com a Cabalá, de que alguém é destinado a herdar o manto de liderança do falecido.

O Ari pacientemente esperou por meio ano sem fazer qualquer proposta até que, aquele destinado a ser seu discípulo, Rabbi Chaim Vital, nascido no ano 5303 da criação do mundo (1543 EC), se apresentasse para o aprendizado. O Ari somente viveu por mais dois anos (falecendo aos 38 anos de idade), mas, naquele curto período de tempo, foi capaz de revelar um caminho e uma profundidade totalmente novos no estudo da Cabalá. Tão completos foram suas idéias que, até hoje, o estudo da Cabalá é virtualmente sinônimo de estudo dos escritos do Ari.

No centro do sistema do Ari está uma descrição radicalmente nova da evolução da realidade. Diferente de Ramak, que viu forças autônomas adiantando linearmente a evolução da criação, o Ari viu uma constelação de forças em ativo diálogo entre si em todo estágio daquela evolução. Ele descreveu as sefirot não como pontos unidimensionais, mas como partzufim (“personalidades”) complexas e interagindo dinamicamente, cada uma com uma característica humana simbólica.

De acordo com o Ari, as forças criativas continuam a interagir com a realidade, respondendo continuamente à forma como os seres humanos administram o eterno conflito entre bem e mal. Desta forma, o impacto das ações humanas nas sefirot – que canalizam a energia Divina para o mundo – podem tanto facilitar quanto impedir o avanço da criação no sentido do seu pretendido estado de perfeição.

Subseqüente ao Ari, houve mais uma personalidade que inspirou uma mudança qualitativa na evolução do pensamento cabalístico. Ele foi o Rabbi Yisrael Ba’al Shem Tov, popularmente conhecido como o Ba’al Shem Tov.

Nascido na província de Podólia no oeste da Ucrânia no ano de 5458 na criação do mundo (1698 EC), o Ba’al Shem Tov devotou seus primeiros anos de vida ajudando a aliviar a aflição física e espiritual de seus concidadãos Judeus, enquanto, ao mesmo tempo, mergulhava nos mistérios da Cabalá com uma fraternidade de místicos, os Nistarim. No ano de 5494 (1734 EC), ele se revelou como cabalista e acabou por fundar um movimento popular que pretendia revigorar as vidas espirituais dos Judeus por toda a Europa Oriental. Este movimento, que passou a ser conhecido como Chassidut (“Chassidismo”), era internamente baseado na antiga tradição doutrinária da Cabalá, enquanto, externamente, dava nova ênfase ao serviço a D'us de forma simples e alegre, particularmente através da oração e atos de amor e de bondade.

Foram os discípulos do Ba’al Shem Tov, particularmente o Rabbi Schneur Zalman de Liadi, nascido no ano 5505 da criação do mundo (1745 EC), o autor do Tanya (“Estudos”) e fundador da escola Chabad da Chassidut, que trouxeram à luz os profundos entendimentos do Ba’al Shem Tov sobre o pensamento cabalístico. No pensamento chassídico, a fórmula abstrata e freqüentemente impenetrável da Cabalá clássica é reformada nos termos psicológicos da experiência humana.

Pelo uso da própria experiência oculta do indivíduo como um modelo alegórico para o entendimento dos mais profundos mistérios do universo, a Chassidut foi capaz tanto de elevar a consciência do Judeu comum como de expandir o território conceitual do pensamento cabalístico.

É um comum erro de concepção a idéia de que a Chassidut é um movimento que existe fora do fluxo formal da Cabalá. De fato, não somente o Ba’al Shem Tov influenciou o pensamento cabalístico, mas ele o levou ao seu ápice histórico, tanto em termos de seu refinamento conceitual quanto em seu grau de influência sobre as vidas dos Judeus comuns. Já foi dito que se a Cabalá é a “alma da Torah”, então a Chassidut é a “alma dentro da alma”.